quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Buno em monte santo

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Inicio o ano lançando o Cada em pleno carnaval, em Monte Santo de Minas, pequena cidade situada no sudoeste do estado. A realização do evento está a cargo do pessoal do Projeto Macabéa, especialmente Alan Marques e André Oliveira. Aproveito a oportunidade para anunciar também a chegada do tão aguardado segundo número da Revista de Autofagia, que finalmente ficou pronto e terá sua pré-estréia nesse mesmo lançamento. Anotem em suas agendas.
Serviço:
Lançamento do livro Cada
Data: 03/02 (domingo)
Local: Casa da Cultura (R. Dr. Pedro Paulino da Costa, 333, Monte Santo de Minas)
Horário: 19 horas
Apoio: Secretaria Municipal de Educação e Cultura / Prefeitura Municipal de Mte. Sto. de Minas
Na ocasião, os livros Cada e Mínima Idéia serão vendidos a R$15,00 e a Revista de Autofagia a R$10,00 cada exemplar.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Quem fim levou gatinha?

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Era filha de elza “a gata”, isso foi lá nos anos 40.


foi criada nas borbulhas dos coronéis do café.


de beleza estonteante


debutou nas coxas de um filho deles.


caiu nas graças até de filho do médico e


engravidou,


sugaram seu ventre e a sua mocidade,


levaram sua cria para europa.


Ela ficou.


seguiu a tradição da mãe,


viveu somente para solidão,  o álcool e


o leito duro.


sarjeta nunca perdoa.


Macabelagem


O anjo agora tá toda quarta-feira  no blog    


literário Macabelagem





Confira "Sem parcimônia"





http://macabelagem.ideiadejerico.com/


quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

O velho e baú


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 Cesário era um velho daqueles que lembram papai noel, o prateado dos cabelos contrastava com a tez avermelhada que era contornada pela barba alva, seus olhos eram dóceis, usava um pequeno óculos redondo com as pernas emendadas com esparadrapo. Era um homem sorridente, mas sabia ter energia nos momentos que assim exigia, tinha um pequeno pedaço de terra nos arredores de uma cidade com pouco mais de seis mil habitantes. Imigrou da Áustria para o Brasil ainda muito criança  na companhia dos pais, em ocasião da primeira grande guerra.  Trouxeram como bagagem apenas um baú marchetado de madeira maciça.


A pneumonia levou seus pais, casou-se com Eulália, a moça mais linda do povoado sulino.  Ela morreu no parto do ultimo filho. Ele ficou só e  uma renca  de 6 filhos, sendo Bernardo o recém nascido.


Francisco o mais velho nasceu em um dia de tempestade, as estradas estavam barrentas e nem cavalo passava, o pai teve que realizar o parto, os outros nasceram pelas mãos da parteira caolha Jacobina. Foram quatro filhos  e duas filhas em oito anos de casamento. Cesário criou os filhos sozinho,  com a dureza de quem planta e espera chover, passou pelos árduos anos de inflação galopante, nunca deixou que faltasse nada do necessário, muitas vezes deixou de comer para alimentar sua prole.


Nunca ficou devendo nada a ninguém.


Nunca fumou nem bebeu, não conhecia bares nem a zona do meretrício, nas suas noites quentes de solidão tomava banho frio na cacimba da gruta, local destinado a meditar e pensar.


Os filhos cresceram, estudaram, se formaram e foram embora formar suas famílias.


Cesário ficou só.


Uma lenda envolvia o velho Cesário, diziam que tinha um baú enterrado na gruta e que lá guardava toda a riqueza acumulada de uma vida toda. Muitos apostavam que no baú havia libras esterlinas de quatro gerações de parentes, outros afirmavam que eram jóias oriundas da família real austríaca e tinham os que diziam que ele havia transformado tudo em um imenso colosso de dólares.  


Os filhos cresceram no meio do convercê  do povoado, Francisco, o mais velho, foi quem primeiro se interessou pela historia do  baú, naquela época com oito anos de idade e assim por diante cada filho questionava o pai sobre o assunto,  Cesário sempre desconversava.


Um dia reuniu todo seu clã e disse: – Vou falar uma vez só e nunca mais tocarei nesse assunto, portanto lembrem bem do que vou dizer. O Baú que todos falam está na gruta, no pé da montanha triangular, em lugar seguro. Lá existe toda fortuna deixada pelos nossos antepassados, um dia ela será de vocês, a maior parte será daquele que for o melhor filho, o melhor cidadão e o melhor cristão.  


O velho apesar de morar só, nunca sentia solidão, todos da cidade o visitava, sempre com olhares para gruta.  Nas piores safras, Cesário era o único  que nunca perdia o  crédito, todos queriam lhe servir. Era convidado para festas, comemorações e inaugurações, mas nunca aparecia. Os filhos estudaram na pequena escola da vila,  depois foram  para faculdade pública da capital. Concorriam entre si para as melhores notas e os melhores empregos. Todos tiveram filho homem com o nome de Cesário. Revezavam-se  no velho sítio para que nunca o pai tivesse solidão.


Nunca esqueceram do Baú.


Cesário caiu doente em um dia de natal, teve o melhor tratamento médico da capital, tudo patrocinado pelo dinheiro dos  filhos. Ficou sem andar, as noras e genros discutiam  e queriam exclusividade para cuidar do doente em suas próprias casas. Cesário optou por ficar uma temporada na casa de cada filho para satisfazer a todos.


O melhor cômodo da casa era destinado ao avô, tratamento de cinco estrelas, remédios na hora, alimentação balanceada e a presença do  médico a cada espirro do velho.


Cesário morreu no dia de seu aniversário de noventa e seis anos, mas não antes de revelar na presença de todos os filhos, o local onde estava o baú e dizer  que todos receberiam a fortuna em partes iguais, pois todos foram bons filhos e cidadãos exemplares.


O funeral foi na vila em que sempre viveu, foi erguido um tumulo de granito branco, o mais caro que encontraram,  uma placa de bronze homenageava o  velho do baú.


A família estava reunida na gruta da montanha, o filho mais velho, com ajuda dos irmãos, empurrou a pedra grande que dava fundo a gruta, retiraram outras pedras menores até que avistaram o baú.


O baú estava envolvido por um plástico transparente amarrado pela boca com uma corda de nylon azul. Era uma caixa de madeira pesada de mais ou menos dois metros por um,  era marchetada em tonalidades negra, marfim e vermelho, os desenhos formavam situações de rotinas domésticas com personagem orientais.A tampa estava emperrada e precisariam de ferramentas para abri-la, as noras pediam para que destruíssem a tampa com auxilio de uma pedra pontiaguda,  os genros optaram por destruir todo o baú para que pudessem ver logo o conteúdo.


A filha mais velha foi quem pediu silêncio e determinou: -Levaremos o baú até a casa de meu pai e lá, vamos abri-lo com a delicadeza necessária para não estraga-lo, afinal, ele pertenceu a varias gerações.


O transporte do baú foi deixado para o outro dia, estava noite e mal enxergavam a estrada de retorno a casa.


Com baú exposto sobre a  mesa da cozinha, Francisco, com auxilio de varias chaves e outras ferramentas,  conseguiu abrir o tampo maciço. 


Todos aproximaram da mesa,  netos, genros, noras, filhas e filhos compartilhavam o acontecimento.


Foi quando Francisco observou que o baú estava completamente vazio, via apenas um pedaço de papel encardido no fundo da caixa: 


"Se o povo for conduzido apenas por meio de leis e decretos impessoais e se forem trazidos à ordem apenas por meio de punições, ele apenas procurará evitar a dor das punições, evitando a transgressão por medo da dor. Mas se ele for conduzido pela virtude e trazido à ordem pelo exemplo e pelos ritos em comum, ele terá o sentimento de pertencer a uma coletividade e o sentimento de vergonha quando agir contrário a ela e, assim, bem se comportará de livre e espontânea vontade". – Confúncio.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Mercadoria de Luxo (por eneida marques)

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Pois é, fico até constrangida em escrever em um blog tão chique, 


tão  preocupado com questões estéticas enquanto eu, cada vez mais,


enquanto envelheço, volto-me para o que há de essencial nas coisas -


esteja exposto ou não, seja claro ou escuro, bonito ou feio.


 



Algo sobre o que andei pensando foi o roubo - e posterior resolução,


 pela polícia - dos quadros do Masp, ainda bem! Quando aconteceu, eu


tinha acabado de ver em dvd o filme ' Saneamento básico' do Jorge


Furtado( que aliás recomendo) E nesse filme somos confrontados


 com aquestão: o que é mais importante, termos produtos da cultura


ou termos sanamento básico, neste país?


 



Quando soube que os quadros  foram roubados do MASP, tive a


sensação dolorosa de que havia perdido um amigo, parente...alguém


muito querido.  Pois bem, mais  tarde, ao ser (pseudo?) informada


sobre os detalhes e circunstâncias do roubo e de como foi a sua


 resolução e, ainda, poder prever de até onde irão as prisões, achei que


algo assim só poderia acontecer aqui mesmo. Assim como aquela tela


do trabalhador só poderia ser do Portinari e o fato de o próprio Masp


 ser o filho dileto do Chateaubriand e ter sido erigido sobre os despojos


 de uma guerra...Uma coisa está visceralmente ligada à outra: nós só


  temos os produtos culturais que temos porque temos o esgoto que


temos....Fico com pena dos ladrões que agora estão presos: como o


 lavrador de café, foram apenas instrumento para que alguns poucos


possam fruir de uma arte cada vez mais "privada", objeto de ecoração,


 mercadoria  de luxo.

Felicidade

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To de olho em você


faz muito tempo,


vou  perseguir


até que os dias sejam brancos e


meus olhos estejam frios.


infiel estrada.


arde os pés cortados de pedras,


não mostram o tempo


ultrajante.


um dia


vou ver tua cara.


respirar seu hálito.


penetrar na sua entranha


molhada.   


mesmo que pra isso


tenha que mudar meu nome,


esconder do tempo,


mascarar pra te valer.


Então lapidar sua fronte,


enxergar sua arrogância de


nunca me ver.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Brinde Crotálico


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 no dia número um explode o champagne,


brindamos a esperança de dias melhores,


confraternizamos.


pessoas queridas sempre faltam, os que já foram, os que ainda aguardam por chegar e outras que nunca vem.


a cada doze meses tudo termina e se inicia.


há quarenta e seis anos assisto esse desenho animado  inacabado,


ratos, patos e margaridas saindo do velório do velho e indo ao encontro do nascimento do novo, e no dia número sete sinto a dor ...


metamorfose... nascer  mais um guiso na minha calda crotálica.


Quarenta e sete velinhas serão apagadas bem depois do recém-nascido dar a primeira gargalhada e treze dias depois do Santo ter nascido na estrebaria.


fazer o que,  comemorar com água e limão parece a alternativa.


foi muito peru com tender.


No meio de cólicas abdominais, vômitos distritais, cortes e mais cortes no orçamento doméstico e ressacas mil,


digo: love-me tender baby.




 







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