segunda-feira, 28 de março de 2011

Previdência


Mesmo que ainda sejam mãos
Agradecem.
Mesmo esquecidas
Ainda prontas.
Pelo árduo trabalho, curvas, tortas,
Porém, acolchoadas com a sabedoria dos tempos.
Calos endurecidos pelas memórias ,
Brilham ao som do terço de perolas rotas.
Memórias novas são esquecidas
Guardando o rosto dos ingratos e imaturos governantes.
Feliz deles que não envelhecem nunca.
Apenas esquecem...
Um dia virá o tempo encharcado  de ira
Que em roucas mãos trarão novos moços.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Almas Fraturadas


MJC, 52 anos e KCC 22 anos, mãe e filha, ambas pacientes do CAPS, diagnosticadas como portadoras de esquizofrenia paranóide.


Vivem obsessivamente juntas, desconheço onde começa ou termina uma e a outra, elas são produto de uma argamassa fundida na fantasia, onde os ingredientes são varias personalidades alienadamente construídas sobre castelos, Guerrilhas ou acontecimentos políticos, evoluindo para delírios persecutórios e de grandeza.


Naquele momento em que os agentes da mistura são antagônicos, elas se tornam agressivas uma com a outra, podendo utilizar de violência física, partindo sempre da filha para mãe e nunca o contrário. Nota-se claramente o sentimento maternal de proteção MJC para com KCC em todas as ocasiões.


MJC chega suada e descontrolada para mim – Acabei de perder a Rede Record e estou em vias de perder também a Rede Globo, fui vitima de uma artimanha do meu irmão Luiz Henrique. (personagem fantasioso). Chora compulsivamente. -Ele faz parte do conselho da Escola onde a KCC estuda, (a filha tremendo de medo faz gestos de concordância com a fala da mãe)


- Conseguiu seqüestrar ela e tive que entregar tudo, ele persegue a menina e ela não pode mais voltar a estudar. Pude contatar Che (referindo ao revolucionário argentino Che Guevara), mas, ele nada pode fazer frente à campanha nazista que se instalou por aqui. Aviões já estão sobrevoando a cidade, médicos nazistas se encontram disfarçados neste local.  São mandantes e capangas dos mandantes todas estas pessoas que você esta vendo no pátio.


A chefa dos capangas é aquela senhora (mostra a enfermeira da unidade), ela pensa que não sei. Agora vou por a boca no mundo, vou ate a radio FM e dizer tudo que sei.


Quando aqui vim morar, fui convidada pelo casal (segundo ela, esse casal que manda na cidade) para dirigir esse município, protegê-los dos mandantes e do crime organizado. Tenho um diário que me foi entregue, nele consta a vida de todos, inclusive a sua.


Não quero mais fazer parte desta trama. Vou almoçar tenho fome, comerei menos hoje em memória das vitimas do Japão. Quero limpar o mundo, me sinto sozinha, sozinha.

quinta-feira, 17 de março de 2011

A caixinha de alabastro


Tenho mania de levar para minha sala de trabalho tudo que me faz lembrar pessoas que eu amo ou acontecimentos agradáveis. A aproximação com estes objetos me faz sentir em casa. E assim, toda vez que eu tenho que mudar de sala uma verdadeira mudança me aguarda, entre as bugigangas uma caixinha de alabastro é especial.


SCO, 42 anos, paciente do CAPS, portadora de esquizofrenia paranoide, perguntou-me certo dia:


Que utilidade teria aquela caixinha?  Brincando com a pergunta, disse que era para alguém levar as alianças, no dia do meu casamento - ela apertou a caixinha no peito, como se fosse a coisa mais preciosa do mundo.


– Tenho um vestido, cor de rosa, rodado e de renda, combina com a cor da caixinha;


Compreendendo a intenção, disse a ela – Teria enorme prazer em ter você como minha madrinha de aliança no dia do meu casamento. Porém esse dia pode demorar muito ou nunca chegar.


Ela me encarou com seus olhos grandes e insanos, abriu um sorriso enorme na sua face corada e gorda,


– Eu sempre quis ser madrinha de aliança, é a coisa mais linda que você poderia me oferecer.


Era tarde para eu dizer que tudo era brincadeira.


Desde esse dia ela entra na minha sala como de costume olha a fonte de água sobre a mesa, olha para caixinha e diz docemente:                  você precisa casar ...

sexta-feira, 11 de março de 2011

O Efeito da autocompaixão na saúde


Você se trata tão bem quanto trata


seus amigos e familiares?


TARA PARKER-POPE
DO "NEW YORK TIMES"

Essa pergunta está na base de uma nova e crescente área de pesquisa psicológica intitulada autocompaixão, que avalia a benevolência com que as pessoas se vêem.

Pesquisas sugerem que aceitar as próprias imperfeições é o primeiro passo para uma saúde melhor. Pessoas com notas altas em testes de autocompaixão têm menos depressão e ansiedade.

Dados preliminares sugerem que a autocompaixão ajuda até a perder peso.

Essa ideia parece contradizer os conselhos de médicos e livros de autoajuda, que sugerem que autodisciplina leva a uma saúde melhor.

Segundo Kristin Neff, pioneira nesse campo, a maior razão pela qual as pessoas não têm mais compaixão por si mesma é o medo de se tornarem autoindulgentes.

"Elas acreditam que é a autocrítica que as mantém na linha. A maioria das pessoas se equivoca, porque nossa cultura recomenda que sejamos intransigentes", afirma Neff, professora de desenvolvimento humano da Universidade do Texas, em Austin

EXCESSO DE CRÍTICA

Imagine como você reagiria a uma criança com problemas na escola ou que come junk food demais. Muitos pais ofereceriam ajuda a ela.

Mas quando adultos se encontram em situações semelhantes, muitos caem em um ciclo de autocrítica e negatividade. Isso os deixa ainda menos motivados para efetuar mudanças.

"A razão pela qual você não deixa seu filho comer cinco potes de sorvete é que você se preocupa com ele. Se você se preocupa consigo mesmo, faz o que é saudável e não o que fará mal."

Uma resposta positiva à afirmação "desaprovo minhas próprias falhas e inadequações e me avalio mal por isso", por exemplo, aponta para falta de autocompaixão.

Nesse caso, escrever uma carta de apoio para si mesmo ou listar suas qualidades e defeitos, lembrando que ninguém é perfeito.

Se tudo isso soa um pouco tolerante demais, há evidências científicas que confirmam a validade da teoria.

Uma pesquisa na Universidade Wake Forest convidou 84 mulheres a comer donuts.

Para um grupo, o instrutor disse: "Todo o mundo que participa do estudo come isto, então não há razão para você se sentir mal por isso." Para outro grupo, ele não disse nada. Resultado: o primeiro grupo, com menos culpa, comeu menos.

"O problema é que é difícil desaprender os hábitos de toda uma vida", afirma Neff.

Editoria de Arte/Folhapress