segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Perolas de Pablo Garcia I

"Guiado por ventos do norte passei por desertos e pântanos até que meus velhos olhos semi-abertos pela chuva que caia, vislumbraram um pequeno vilarejo nos contrafortes de uma montanha. Em uma placa enferrujada eu lia Villa dos lobos - decifra-me ou te devoro.
Confesso que após o vendaval a vista da pequena vila era auspiciosa, era pequena e muito simpática.
Pela minha idade avançada e muitas paragens, vivenciei muitas coisas e aprendi que devo aprender sempre. Porém nada foi tão triste como este relato que vos apresento.
Observei que as pessoas que ali habitavam, na sua grande maioria, andavam de cabeça baixa e tinham uma expressão de arrependimento no olhar.
Conforme fui aclimatando no ambiente, dia após dia, percebi que a vila estava às moscas, lixo por todo lado, ruas com buracos, comércio fechando as portas, desemprego por todo lado, adolescentes se esvaindo em sonhos ilícitos, escolas banhadas de mau aprendizado. Tudo estava cinza e triste, aqui e acolá se via uma bolinha na via pública pintada de branco, indicando que era contorno de trafego.
 Cheguei a uma espécie de totem tribal diziam que se chamava semáforo, ser solitário que espreguiçava no centro do povoado, indicando nada a lugar algum.
Mas, todos tinham o maior respeito pelo ser. Diziam que ele fazia profecias.
Poetas bêbados estirados no chão centenário diziam que a luz verde indicava alguma esperança no futuro, por isso os carros continuavam a trafegar quando ele acendia.
Mas, que o amarelo era o sinal do desespero atual que vivia a população.
E que o Vermelho, ah o vermelho...
...Era o sinal DA BESTA, a saúde do povo estava muito mal.
O povo estava doente, sem nenhum tipo de assistência, crianças, velhos e gestantes ficavam nas filas por semanas, meses para um atendimento ineficaz e muitas vezes até desastroso para a saúde. Locais de atendimento eram fechados por fatos sobrenaturais, funcionários não queriam trabalhar, faziam o que queriam e quando queriam.
Os dentes caiam sem tratamento, muitas crianças morriam ainda antes de nascer, e quando nasciam nunca era na vila, pois ali não tinha ninguém para ampará-las. 
E ainda por cima a população estava á mercê de outra praga, um endiabrado duende que comia tudo que via pela frente, principalmente as mulheres. Sacrificava as coitadas ao trabalho e depois se alimentava das pobres.
A besta era insaciável. Comer muito era seu único objetivo.
Estava gordo, forte e saudável afinal seu alimento era sangue de moça e muito dinheiro.
Portanto quando na luz vermelha, os carros paravam e alguns até faziam o sinal da cruz em sinal de medo e pânico pelo pior.
Porém, a vila tinha uma pequena parcela de pessoas que viviam bem, muito bem por sinal, eram todas amigas do rei da vila que por sinal era amigo do duende.
Alguns eram cidadãos antigos da vila, gordos de tanto comer um alimento muito apetitoso no inicio, mas com um efeito colateral desastroso, o chamado Paulinus Poder.
Esse alimento era um engodo, mas somente se descobria quem o comia e o pior, tardiamente.
A vila era o retrato da vaidade do rei e sua corte de insanos imbecis, também de bobos da corte, aliás, estes últimos eram o que mais tinha."  por Pablo Garcia 2013


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