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flor de narciso |
Contam que ele nunca voltou, na verdade ele sempre esteve aqui.
Veio ao mundo sob as águas de janeiro, um ser andrógino, tinha a beleza alva de quem não queria nascer.
Logo se apaixonou pelas montanhas e o verde das matas, na adolescência foi perseguido por bandos de sagitários cruéis e invejosos da sua inteligência e beleza.
Por isso, nunca se deixou abater, continuou guerreiro de grandes batalhas.
A batalha mais sangrenta que quase lhe levou a vida, vinha das próprias entranhas.
Ele a denominou como AUTOCONHECIMENTO.
Por um tempo teve que partir para outras montanhas e águas, para aprender o ofício da guerra.
Ele o denominou como CONHECIMENTO.
Abatido lembrou "É que Narciso acha feio o que não é espelho ".
Voltou vencedor, trazendo na bagagem o cálice e a serpente, que agora, segundo suas convicções mais íntimas, era devido compartilhar com aquela montanha que sempre amou, não importando com os sagitários cruéis.
Foram anos de luta armada, enfrentando o medo, a doença, as sombras da maldade, a iniquidade, a orfandade, lutou até quase esvair as forças. Ele denominou TRABALHO.
Viu por algum momento raios de sol que iluminavam onde havia a escuridão e o abandono.
Ele denominou IDEAL.
O que ele nunca saberia, é que um mago tinha lhe tirado a magia da miopia.
E ele olhou as montanhas refletidas nas águas.
Tudo era podre, e via todos como sagitários cruéis.
Ao contemplar a montanha e seu povo, sua unidade rompe-se: o que era um parte-se em dois.
É arrastado para fora de si.
O que ele viu? a realidade.
Onde estava o ideal de si ? E lutou para não perder essa imagem.
Sua posição reclinada para baixo e sua anterior miopia não permitia ver a vastidão do horizonte, deixou-o envolto em si mesmo.
Por isso a visão que teve era ínfima.
Mas a imagem ideal refletida na mente era inalcançável, isso o levou à ruína como punição por não conseguir trazer para si a imagem desejada.
Ele jamais foi o mesmo, Só lembrava do eco do seu próprio berro a aparvalhar a mente.
Se recolheu ao abrigo do muro amarelo, ficou a debruçar na fonte de Téspias para beber água e cultivar flores, amarelas, narcóticas e estéreis.
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narciso |
Não queria mais assumir responsabilidades sociais, enfrentar desafios, a realidade, as desilusões.
Foi contemplar seu eu.
Mas, Não há risco zero na vida.
o autoconhecimento, batalha de todos os dias
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