quinta-feira, 24 de março de 2011

Almas Fraturadas


MJC, 52 anos e KCC 22 anos, mãe e filha, ambas pacientes do CAPS, diagnosticadas como portadoras de esquizofrenia paranóide.


Vivem obsessivamente juntas, desconheço onde começa ou termina uma e a outra, elas são produto de uma argamassa fundida na fantasia, onde os ingredientes são varias personalidades alienadamente construídas sobre castelos, Guerrilhas ou acontecimentos políticos, evoluindo para delírios persecutórios e de grandeza.


Naquele momento em que os agentes da mistura são antagônicos, elas se tornam agressivas uma com a outra, podendo utilizar de violência física, partindo sempre da filha para mãe e nunca o contrário. Nota-se claramente o sentimento maternal de proteção MJC para com KCC em todas as ocasiões.


MJC chega suada e descontrolada para mim – Acabei de perder a Rede Record e estou em vias de perder também a Rede Globo, fui vitima de uma artimanha do meu irmão Luiz Henrique. (personagem fantasioso). Chora compulsivamente. -Ele faz parte do conselho da Escola onde a KCC estuda, (a filha tremendo de medo faz gestos de concordância com a fala da mãe)


- Conseguiu seqüestrar ela e tive que entregar tudo, ele persegue a menina e ela não pode mais voltar a estudar. Pude contatar Che (referindo ao revolucionário argentino Che Guevara), mas, ele nada pode fazer frente à campanha nazista que se instalou por aqui. Aviões já estão sobrevoando a cidade, médicos nazistas se encontram disfarçados neste local.  São mandantes e capangas dos mandantes todas estas pessoas que você esta vendo no pátio.


A chefa dos capangas é aquela senhora (mostra a enfermeira da unidade), ela pensa que não sei. Agora vou por a boca no mundo, vou ate a radio FM e dizer tudo que sei.


Quando aqui vim morar, fui convidada pelo casal (segundo ela, esse casal que manda na cidade) para dirigir esse município, protegê-los dos mandantes e do crime organizado. Tenho um diário que me foi entregue, nele consta a vida de todos, inclusive a sua.


Não quero mais fazer parte desta trama. Vou almoçar tenho fome, comerei menos hoje em memória das vitimas do Japão. Quero limpar o mundo, me sinto sozinha, sozinha.

2 comentários:

  1. Um estado e interação com o nada e com o tudo, um ser, ou dois seres num ser que nao tem vida. Ha vida nestas vidas? Com certeza que existe pois a busca da defesa mostra que la esta um ser que busca dar o amor e viver o amor pela sua filha. Amar nao tem barreiras porque o ser é AMOR. E elas sao puro amor.

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  2. Alan, querido,
    fiquei muito tocada com seus novos textos. Confesso que a loucura me enche de medo e curiosidade, ao mesmo tempo... Essa linhazinha tênue que separa a sanidade...
    E a gente vê que há beleza na loucura.
    Fico mais sua fã.

    beijos

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