terça-feira, 4 de setembro de 2007

Medo




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 (Con)viver com palavras não é fácil, principalmente se a nossa necessidade de palavras for uma ânsia. Às vezes fica difícil saber se habitamos as palavras ou se são elas que nos habitam. Esse atrito cruel entre presença e fuga, controle e descontrole, compreensão e incompreensão. Mas o melhor de tudo é que, por mais que doa, e dói muito, a coisa toda é muito prazerosa. Penso que escrever é nos atrevermos, corajosamente, à arqueologia do espelho.

Hoje entendo claramente o meu medo. Simplesmente medo, aversão às imperfeições do espelho, de confrontar com a lucidez cristalina da materialidade da palavra a obscuridade da intimidade mais funda aflorada na trama da nossa escrita, do nosso texto. Quando escrevemos nos tornamos um prato cheio para a voracidade do bom leitor, aquele que lê nas entrelinhas, nos silêncios, nos não-ditos, na intenção que se entortou no meio do caminho e contornou a pedra, a nossa fragilidade toda à flor da palavra que mais confirma quanto mais se nega...

3 comentários:

  1. Quando o assunto é medo:

    VELAS AVOLUMADAS
    Olhei o relógio que marcava tempo do alvorecer que ainda não se anunciava. Talvez pela quantidade de nuvens que se reuniam em atenção ao céu, dignas, esforçando-se para deliberar algum enigma. A luminosidade da aurora, contida, inibida, não condizia com os ponteiros que marcavam sem medo do erro, do ato falho, 5:30 h. As velas, içadas, hasteadas, aguardavam a partida inevitável. Mesmo que a luz não habitasse o firmamento era hora de partir. Indiferente aos ponteiros e ao fulgor, o vento soprava fortemente a sudeste, e as velas vinham ao mundo em sombras a brandir e exigir atividade.
    O nascer de um novo dia já não importava mais, visto que, em mim, um novo tempo já se iniciara, desde o momento que a voz dela se apoderou de minha insistente capacidade de me anular obsessiva e compulsivamente, elegendo o medo e a bravura como novos e poderosos combustíveis, tal qual o vento que se avizinhara e mostrava sua face aos panos inquietos da vela avolumada.
    As amarras! Sim, sempre elas, as amarras que sempre refrearam meu caminho. Faça-se livre delas homem! Desamarre-se! Navegue! O vento por suas velas anseia. Vá!

    André Oliveira

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  2. Lindo texto ( e bela imagem!!!) De quem são?
    Pelo visto, voc~e é que anda purálma ultimamente, hein irmãozinho? Faz bem ,mas não se esqueça que sempre é bom tratar de harmonizar corpo e alma....beijos saudosos.

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  3. quem não tem medo do percurso da vida? Somos apenas aventureiros que arca com a colheita! É lindo o texto. Pratico texto de Marcial Salaverry... "Por que se preocupar com destino?
    Com o que reserva o futuro?
    Basta saber viver,
    sem pensar com possível sofrer,
    e com toda a certeza,
    a vida fica uma beleza,
    se dermos um lindo sorriso,
    esquecendo todo siso...
    Trocando mau humor
    por um bom amor...
    Ou mesmo por um sonho de amor...
    Fazer em alguém um carinho...
    Para melhorar o dia, é o melhor caminho...
    Seja em quem for,
    por amizade, ou por amor,
    esquecendo um aborrecimento,
    e trocando por um doce sentimento...
    Se acordou chateada,
    sorria para a vida e será mais amada...
    E, principalmente um beijo para a vida,
    vivendo-a como deve ser vivida..."
    Abraços e bjs

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