terça-feira, 12 de novembro de 2013

Darin recusa Tarantino





Ricardo Darin é uma persona  impar no  meio dos famosos, em várias ocasiões provou estar acima do seu tempo. Tempos em que valores no meio profissional se torna uma busca desenfreada pelo "up" a qualquer preço, onde o poder aquisitivo nunca está dentro dos padrões do desejo. Para tanto, grande parte destes profissionais sujeitam ir na contra mão de ideais e pensamentos que foram cristalizados  com a própria realidade, com a realidade do país, da cidade e da família que viveram.  Segundo Freud  "o caráter de um homem é formado pelas pessoas que escolheu para conviver"  Darin se exorcizou de todos os cliques da glória hollywoodiana e da possível indicação de um "Oscar", que para ele pelo menos não deve ser glória, ou por outro lado teria um preço muito alto a pagar - o seu caráter, se Freud estiver realmente certo, imagino como são meritórias as pessoas que o cercam.
Confiram a entrevista:


Entrevistado em setembro no late show argentino Animales Sueltos, o ator e também argentino Ricardo Darín me sai com essa:
Fantino: É verdade que você recusou uma oferta para filmar em Hollywood com Tarantino?
Darín: Sim, é.
F: E por quê?
D: Porque me ofereceram o papel principal mas eu teria que fazer um traficante mexicano. E eu perguntei ao produtor por que os mexicanos sempre tem que fazer os traficantes se os maiores consumidores em nível planetário são os ianques.
F: E o que ele respondeu?
D: Bom, a resposta que ele me deu me incomodou tanto que confirmou minha escolha de não filmar com Tarantino. Me disse “Então é uma questão de dinheiro. Diga quanto você quer que pagamos. Você coloca o preço”. Quer dizer, não podem chegar a ver nem a compreender que existem códigos fora do dinheiro que alguns de nós temos… entende?
F: Mmm… não, na verdade não.
D: Como não? Ale, você é esperto, tem que entender o que falo…
F: Mas você poderia ter ganho mais dinheiro.
D: Mais dinheiro? Ser milionário? Pra quê?
F: Como pra quê? Pra ser feliz.
D: Feliz com mais dinheiro? Do que você está falando?
F: Bom, todos queremos ter mais dinheiro pra ser felizes.
D: Ale, eu tenho dinheiro, tenho um carro importado de alto nível. Como o que quero no café da manhã, no almoço e no jantar, e posso tomar dois banhos quentes por dia. Você tem ideia de quantas pessoas no mundo podem tomar dois banhos quentes por dia? Muito pouca gente, entende? E como eu não me considero um excelente ator, sempre digo a mim mesmo que foi por pura sorte, entende? Nesse mundo capitalista selvagem eu sou um cara de muita sorte. Eu sou um privilegiado entre milhões de pessoas. E mais, eu tenho a sorte de poder ver isso em mim, o que me permite ter uma boa conta bancária e não acreditar nela. Eu posso me ver de fora e dizer “Puta, que louco, que sorte você teve”.
F: Mas você filmaria em Hollywood… e não pode negar que do Tarantino ao Oscar seria um pulo…
D: Acho que eu não sei me explicar direito… eu já estive na cerimônia do Oscar e não gostei, tudo é de plástico dourado, até as relações entre as pessoas. Fui, aproveitei, mas esse mundo não é o meu, não é o que elegi nessa vida.

2 comentários:

  1. ainda bem que ainda existem pessoas que valorizam outros valores que não sejam esses materiais que se acabam facilmente!

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  2. Post espetacular, meu caro Alan! Confesso que esta rigidez ética do Darin me surpreendeu positivamente! Já o admirava como ator... agora, também como pessoa! Forte abraço! - Raphael Villela

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