quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Narciso, o muro amarelo e narcisação

flor de narciso

Contam que ele nunca voltou, na verdade ele sempre esteve aqui.
Veio ao mundo sob as águas de janeiro, um ser andrógino, tinha a beleza alva de quem não queria nascer.
Logo se apaixonou pelas montanhas e o verde das matas, na adolescência foi perseguido por bandos de sagitários cruéis e invejosos da sua inteligência e beleza. 
Por isso, nunca se deixou abater, continuou guerreiro de grandes batalhas. 
A batalha mais sangrenta que quase lhe levou a vida, vinha das próprias entranhas. 
Ele a denominou como AUTOCONHECIMENTO
Por um tempo teve que partir para outras montanhas e águas, para aprender o ofício da guerra. 
Ele o denominou como CONHECIMENTO
Abatido lembrou   "É que Narciso acha feio o que não é espelho ".
Voltou vencedor, trazendo na bagagem o cálice e a serpente,  que agora, segundo suas convicções mais íntimas, era devido compartilhar com aquela montanha que sempre amou, não importando com os sagitários cruéis. 
Foram anos de luta armada, enfrentando o medo, a doença, as sombras da maldade, a iniquidade, a orfandade, lutou até quase esvair as forças. Ele denominou TRABALHO.
Viu por algum momento raios de sol que iluminavam onde havia a escuridão e o abandono. 
Ele denominou IDEAL.
O que ele nunca saberia,  é que um mago tinha lhe tirado a magia da miopia.
E ele  olhou as montanhas refletidas nas águas. 
Tudo era podre, e via todos como sagitários cruéis.
Ao contemplar a montanha e seu povo,  sua unidade rompe-se: o que era um parte-se em dois. 
É arrastado para fora de si. 
O que ele viu? a realidade.
Onde estava o ideal de si ? E lutou para não perder essa imagem. 
Sua posição reclinada   para baixo e sua anterior miopia não permitia  ver a vastidão do horizonte, deixou-o envolto em si mesmo. 
Por isso a visão que teve  era  ínfima. 
Mas a imagem ideal refletida na mente era inalcançável, isso o levou à ruína como punição por não conseguir trazer para si a imagem desejada.
Ele jamais foi o mesmo, Só  lembrava do eco do seu próprio berro a aparvalhar a mente.
Se recolheu ao abrigo do muro amarelo, ficou a  debruçar na fonte de Téspias para beber água e cultivar  flores, amarelas, narcóticas e estéreis. 



narciso
Se recolheu a solidão porque ele se perdeu na sedução da imagem da montanha. 
Não queria mais assumir responsabilidades sociais, enfrentar desafios, a realidade, as desilusões. 
Foi contemplar seu eu. 
Mas, Não há risco zero na vida.









Um comentário: