quarta-feira, 20 de novembro de 2013

uma história de boi e boiada

Há muito tempo, quando ainda  adolescente e meu pai ainda fazia tentativas estéreis de me adicionar no  mundo masculino, ele me levou ao  nosso sítio, o lugar ficava a alguns quilômetros da cidade. Sentado na traseira do Jeep velho, eu ia apreciando os redemoinhos de poeira vermelha que contorciam cegando a paisagem campestre, os buracos na estrada eram lembrados a cada momento com os solavancos que elevavam meu corpo e a cabeça chegava até a capota de lona de borracha.
Dava inicio a minha desconsolação. Ao chegarmos, logo tinha que buscar os cavalos e arria-los conforme instruções do meu pai que não dava folga. Pronto. Agora era esperar os compradores do gado que ficava pastando em um lugar um pouco distante dali de onde estávamos. 
Com a chegada dos compradores, eu nunca fazia parte dos cumprimentos nem da roda de conversas, ficava arredio atras das plantas ou no fundo da casa,  espiando os passarinhos, que eram muitos por sinal. 
Meu pai logo exigiu a minha presença com um grito que era característico. Entortei três vezes os olhos para cima, verifiquei se a fantasia de boiadeiro estava em ordem e fui. 
- Este é meu filho;
-Vá até pasto de cima,  escolha  doze cabeças de gado  e traga aqui para os senhores apreciar o rebanho. E logo.
Disfarçando  o quase tombo no ato de subir no cavalo, sai tateando a estrada íngreme. 
Voltei um hora depois, sem os animais -  a cara do meu pai estava vermelha de raiva e de esperar no sol quente.

- Pai você não disse, é para trazer os lisos ou os estampados?

 Um silencio pairou no ar, só ouvia um piado , que não conseguia identificar - imagino que seria coruja. 
Os senhores compradores riam para dentro, com medo de ofender meu pai. Até então nunca tinha visto rir para dentro, eles davam gargalhadas  para dentro, os olhos não mentiam. 
Meu pai disse - desça deste cavalo e vá para o jeep.
Nunca mais ele tentou me levar a uma venda de gado. 

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