quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Olhos da intolerância

"Enquanto imperar a filosofia de que há uma raça inferior e outra superior o mundo estará permanentemente em guerra. É uma profecia mas todo mundo sabe que isso é verdade"  Bob Marley   


Sobre momentos vivenciados nos meus “cinquentitos” anos de vida, posso dizer :  Inicialmente foram observados com miopia deformada pela imaturidade e pelo falso moralismo católico da cidade mineira em que vivi e que sobrevivo atualmente;
Mais tarde posso afirmar que foram focados por olhar mais amplo proporcionado pela sabedoria da maturidade.
Presenciei proibições de ordem moral-religiosa: Isto é feio, é pecado, é condenável pela sociedade, isso não é coisa de homem.
(Lembro de Nelson Rodrigues que sempre deitou e rolou e fez nossa alegria por apontar as safadezas que foram reprimidas para debaixo do tapete.)
Passei em frente à repressão militar dos anos 70/80, não de maneira ativista militante, ainda era novo e narcotizado pela “moral e cívica”, matéria obrigatória na escola que enfatizava a beleza do nazismo militar brasileiro.
É interessante lembrar que naquela época as salas de aulas eram divididas em salas masculinas e femininas, nunca mistas, era fomentada a educação física, eram proibidas, na grade escolar  matérias que promoviam a sensibilidade artística e literária ou aquelas que faziam os alunos pensarem.
Nesta altura minha sensibilidade artística foi chacinada pela campanha do “tem que ser macho” familiar  e “Tudo contra o “pervertido e o subversivo”da repressão militar.

Enquanto a pátria amada era manchada pelo sangue de jovens sonhadores, e violentada pelas botas e boinas verde-olivas.  Eu..., completamente ignorante aos acontecimentos políticos, tinha que me safar da batalha diária que era viver a infância/adolescência, freqüentar uma escola escancaradamente homofóbica, conviver com colegas de inteligência medíocre, fabricados por valores humanos horríveis, salvo pouquíssimas exceções, e também coexistir com uma família completamente despreparada e alheia a todos os acontecimentos.

E eis que debaixo de salvas delirantes surge a democracia, e o Estado de Direito.

Hoje a situação da intolerância nesta triste cidade do sudeste mineiro, tanto pelos homossexuais quanto racial, sobrevive e é desculpável proporcionalmente ao poder econômico do sujeito; velada em parcela da sociedade ; “sub-aceita” em certas ocasiões, aquelas onde há necessidade profissional de um  gay, mas, os mesmos que aceitam jamais aceitariam um filho ou parente próximo “pretinho ou veadinho”.  

   Não posso deixar de dizer que tudo isso passou a ser divertido para mim e que nem todos cidadãos desta comunidade são representantes desta situação, mas uma grande maioria sim.     

 

 

4 comentários:

  1. Belo texto, ou um desabafo...

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  2. Chega uma hora que não da mais...40entas, 50entas, 60entad...passando e a nossa vidinha continua coberta pela bela cortina de fumaça que somos obrigados a abrir e fechar nesta sociedadezinha pobrinha de verdades.
    Coragem...! Me diz sempre uma professora e amiga... Coragem...! Amigo.

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  3. Alan,
    Para mim, uma das suas memórias sintetiza toda a sua subjetividade: "o garotinho na escola, debaixo da grande árvore, lanchando".
    Você é uma pessoa maravilhosa Alan. Agraciados são os que têm o seu amor, seu carinho, sua amizade.
    Semana de aniversariar e de comemorar.
    Muitas felicidades, muitos anos de vida!
    Grande abraço,
    Marco

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  4. obrigado patrícia, marcelo e marco ...

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